SÃO CLEMENTE



Bujões tem na sua linda Capela do Senhor do Calvário uma relíquia que todos conhecem por São Clemente e que se encontrava desde há muitos anos na antiga e pequenina Capela de Santo Amaro, situada no centro do povo, Capela essa que foi demolida, existindo no local um memorial como recordação.
Uma das perguntas que muitos Bujoenses fazem e para a qual se gostaria de ter uma resposta conclusiva é a questão de não se saber ao certo como veio essa relíquia parar a Bujões. 
Uma hipótese que tem alguma consistência, terá a ver com a circunstância de tal relíquia ter sido primeiramente colocada na já desaparecida Capela de Nossa Senhora da Conceição, que teve como seu Administrador, Joaquim José da Silva Barbosa e Souza, figura esta que irá merecer oportunamente uma página especial, tal como o Padre Joaquim José da Silva Barboza, tendo ambos sido contemporâneos e falecidos em Bujões, pois este deixou um testamento com algumas curiosidades e aquele, de nome quase idêntico, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, uma honra que só poucos conseguiam. 
Sobre São Clemente, afinal o motivo deste texto, apenas nos apraz dizer o seguinte:
Antes de mais, é nossa sincera opinião que devemos antes de mais respeitar a fé que existe em cada um de nós e não colocar em causa a fé seja de quem fôr, pois esse direito é inquestionável e aplica-se a todo o tipo de religiões.
A relíquia que temos orgulho em possuir na nossa Capela, apresenta-se em forma de esqueleto humano, com a coluna vertebral presa aos ossos da caveira através de componentes metálicos (em arame), e foi recentemente restaurada por especialistas, com a ajuda de muitos Bujoenses e já o havia sido antes, há muitos anos. A relíquia apresenta-se visualmente em forma de um corpo, cujos restos objecto do aludido restauro, possuem ossos bem consistentes e com algumas centenas de anos, medindo à volta de 1,60m de altura, apresentando vestes em seda, alusivas a um legionário romano, estando deitado com a cabeça apoiada numa almofada em tecido ora reforçado para não danificar a seda original, tudo complementado com a respeitável espada e uma vitrine protectora para evitar danos.
Na classificação estabelecida pela própria Igreja, esta reliquia é considerada de primeira categoria pois apresenta ossadas de um corpo completo e mereceu aprovação e benção necessária por se encontrar num local de fé e considerado como casa de Deus.
Em Portugal, nas mais diversas Igrejas ou Capelas e em alguns Conventos ou outros locais de fé, existem inúmeras reliquias de santos e esse culto atingiu o seu auge na Idade Média, no período da construção dos grandes Templos da religião católica.
Basta lembrar que Santiago de Compostela reclama o corpo de Santiago Maior (ver imagem seguinte)

    Santiago Maior-Compostela
          


Trier, na Alemanha, tem orgulho no manto de Jesus sobre o qual os soldados romanos jogavam aos dados.


   Chartres, em França, proclama possuir a túnica da Virgem Maria.  


SÃO CLEMENTE


Clemente foi o quarto papa da Igreja de Roma, ainda no século I. Vivia em Roma e foi contemporâneo de São João Evangelista, São Filipe e São Paulo; de São Filipe era um dos colaboradores e São Paulo até o citou em seus escritos. A antiga tradição cristã apresenta-o como filho do senador Faustino, da família Flávia, parente do imperador Domiciano. Mas foi o próprio Clemente que registou sua história ao assumir o comando da Igreja, sabendo do perigo que o cargo representava para a sua vida, pois era então uma época de muitas perseguições aos seguidores de Cristo.
Governou a Igreja por longo período, desde o ano 88 ao ano 97, quando levou avante a evangelização muito firmemente centrada nos princípios da doutrina. Enfrentou as divisões internas que ocorriam. Foi considerado o autor da célebre carta enviada aos Coríntios, que não seguiam as orientações de Roma e pretendiam desligar-se do comando único da Igreja. Através da carta, Clemente I animou-os a perseverarem na fé e na caridade ensinada por Cristo, e participarem da união com a Igreja.
Restabeleceu o uso do crisma, seguindo a tradição de São Pedro, e instituiu o uso da expressão "amén" nos ritos religiosos. Com sua actuação séria e exemplar, converteu até Domitila, irmã do imperador Domiciano, também seu parente, facto que ajudou muito para amenizar a sangrenta perseguição aos cristãos. Graças a Domitila, muitos deixaram de sofrer ou, pelo menos, tiveram nela uma fonte de conforto e solidariedade.
Clemente I expandiu o cristianismo, assustando e preocupando o então imperador Nerva, que o exilou na Criméia. A essa altura, assumiu, como papa, Evaristo. 
Enquanto nas terras do exílio, Clemente I encontrou mais milhares de cristãos condenados a trabalhos forçados nas agrestes minas de pedra. Passou a encorajá-los a perseverarem a sua fé e converteu muitos outros pagãos.
A notícia chegou ao novo imperador Trajano, que, irritado, ordenou que ele prestasse sacrifício aos deuses. Depois, como ele recusou, mandou atirá-lo ao mar Negro com uma âncora amarrada no pescoço. Tudo aconteceu no dia 23 de novembro do ano 101, como consta do Martirológio Romano. Reza a tradição que o corpo estava guardado por Anjos no fundo do mar.
O corpo do santo papa Clemente I, decorria o ano 869, foi levado para Roma pelos irmãos missionários de nome Cirilo e Metódio, também venerados pela Igreja, e entregue ao papa Adriano II. Em seguida, numa comovente solenidade, foi conduzido para o definitivo sepultamento na igreja dedicada a ele. Na cidade de Collelungo, nas ruínas da propriedade de Faustino, seu pai, foi construída uma igreja dedicada a São Clemente I.
Basílica de São Clemente, em Roma. Aqui se diz estarem os restos mortais do Santo.

                         Igreja dos Congregados, no Porto.


Também a linda Igreja dos Congregados na cidade do Porto, uma autêntica joia em beleza, reclama ter entre as suas relíquias parte do corpo de São Clemente, Papa de Roma, o qual, como atrás se refere, foi atirado ao mar e de onde muitos séculos depois foi retirado.
E tenha-se também em conta o seguinte:
Na Igreja do Manigoto, Pinhel, Guarda, há uma Relíquia do Mártir São Clemente que as pessoas da freguesia chamam "Mão de São Clemente". É um dos seus ossos, inteiro, metido num braço de madeira com vidro. 
E poderíamos referir outras situações, pois que São Clemente é um santo que teve e tem muitos fiéis entre os católicos.
Repare-se na circunstância que está assinalada no livro "Agiologio Lusitano dos Sanctos e varoens illustres em Virtude, do reino de Portugal e suas conquistas" de autoria de Jorge Cardoso (1606/1669) em que refere que o diplomata Don José de Mello, embaixador em Roma, entre 1604 e 1608, e que viria a ser Bispo de Miranda e logo a seguir Arcebispo de Évora (1611/1633) trouxe daquela cidade grande número de relíquias, entre as quais três corpos inteiros a saber: Santo Hilário, Mártir São Clemente e gloriosa Santa Anastácia, que ficaram no Convento das Chagas de Cristo, das clarissas, em Vila Viçosa, Alentejo. O corpo de São Clemente foi transladado em 5 de Março de 1610.
Por fim, convém não esquecer que quando do grande terramoto de Lisboa em 1755, grande parte das relíquias de santos existentes nas Igrejas e Conventos atingidos, a maioria das quais ardeu, foram levadas para Igrejas e Capelas do Norte, e voltou-se nessa época a um grande surto de procura de relíquias de santos, como meio de pedir proteção contra aquele violento tremor de terra, considerado por muitos um castigo divino. 
Ora a Capela de Nossa Senhora da Conceição, já existente nessa altura, na qual se julga ter sido depositada pelo seu administrador e patrono, o referido Joaquim José da Silva Barbosa e Souza, a relíquia de São Clemente, mais não terá sido do que uma forma de obter para Bujões ajuda e proteção divinas, através de um ato de fé e na convicção de que aquele iluminado santo não deixaria de intervir junto de Deus pedindo que a nossa aldeia nunca fosse atingida por tão tenebroso cataclismo, como de facto nunca foi.
Sendo assim, existe o São Clemente de Bujões, como existem muitos outros São Clemente em diversos sítios do Mundo e quer seja aquele que foi atirado ao mar ou aquele que lutou apenas em defesa da religião em que acreditava, espadeirando contra os inimigos da sua fé, melhor motivo não teremos nós Bujoenses para continuarmos a acreditar que sob a proteção de São Clemente que está deitado e, portanto, menos cansado do que os outros santos que estão em pé, teremos sempre quem zele por nós e só nos cumprirá continuar a respeitar a herança dos nossos ilustres antepassados que acreditaram na proteção deste calmo e tranquilo santo, todavia vigilante e atento a olhar por nós, e que só algumas vezes, muito poucas, fez parte das procissões porque se queixava que os solavancos do andor lhe interrompiam o seu descanso de guerreiro, sabendo-se que generosamente e com imensa bravura lutou em defesa dos ideais propagados por Jesus Cristo, tendo sempre a seu lado a espada pronta para, se for necessário, comandar os fiéis do seu amado Mestre!
Nessa altura, se necessário, todo o povo de Bujões erguer-se-á solidário.


Gravura existente num Museu do Porto alusiva a São Clemente, Martir. Existem parecenças com o nosso São Clemente.




Nota: Agradecemos aos blogues e sites as fotos e textos que apresentamos, bem como à Torre do Tombo, em Lisboa, onde obtivemos alguns documentos do Cavaleiro da Ordem de Cristo Joaquim José da Silva Barbosa e Sousa, e seu testamento, para apresentarmos em páginas futuras.

Julho 2012





4 comentários:

  1. Aqui no Recife PE (Brasil) temos um são clemente menino um busto e reliquias na Basílica de Ns da penha

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  2. Será o de Bujões o verdadeiro ou o dos congregados. Cada um tem a sua fé. Eu não sabia da existencia deste Santo em Bujões, Sempre a aprender. Beijinhos

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  3. Boa noite, o meu nome é E. Alexandre e estou a trabalhar num projecto de documentação dos vários mártires trasladados de Roma para Portugal durante o séc. 18. Gostaria imenso de lhe fazer algumas perguntas (e partilhar consigo qualquer informação que tenha curiosidade em saber). Se tiver a bondade, agradeço que me contacte em: emidio_alexandre@hotmail.com
    Cumprimentos

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