MILAGRE de 1855




No final do Verão de 1855, um surto de cólera varreu Portugal provocando milhares de mortos. A freguesia de Abaças foi severamente atingida, quer em Abaças, quer em Fontelo.
A cólera é uma infecção intestinal aguda com origem na bactéria vibrio-cholerae(vibrião).
Num só mês, em Outubro de 1855, faleceram 61 pessoas das quais 50 em Abaças e 11 em Fontelo, a maioria das quais crianças, a grande percentagem das quais devido à peste, como o povo lhe chamava.
Bujões, aldeia vizinha integrante da freguesia, ali tão cerca, não registou, surpreendentemente, um só único falecimento nesse fatídico mês, sendo tal facto considerado um autêntico milagre, graças ao nosso Padroeiro, Santo Amaro, segundo reza a lenda.
Imaginem o terror que se deve ter apoderado dos habitantes daquelas povoações nossas vizinhas, quando havia dias em que morriam cinco a seis pessoas! Só nos dias 12 a 18 de Outubro foram a sepultar 29 pessoas, média de quatro por dia.
Infelizmente, anos mais tarde, em 1884, surgiu um novo surto muito grave dessa epidemia e Bujões já não foi poupado, registando então um número deveras impressionante de 19 crianças falecidas, enquanto que em Abaças e Fontelo o número total de mortos ultrapassou os 50!
Saliente-se que uma das alterações mais significativas aos costumes da época, por causa dessa epidemia, teve a ver com a proibição de enterros nas Igrejas, com a reformulação dos cemitérios, a introdução nas cidades do saneamento básico, canalização de água, recolha de lixos, criação de autoridades de saúde, etc. etc.
Em Bujões, o único melhoramento significativo resultou nas obras de edificação da Fonte, encerramento para sempre dos dois Cemitérios existentes - um junto à Capela de Nossa Senhora da Conceição, situado no local onde hoje fica o Largo do Seixo, e outro, o chamado Cemitério do Calvário, por cima da Fonte, perto da Capelinha que existia no monte do Senhor do Calvário, que depois foi restaurada e integrada na atual Capela, bem mais bonita e acolhedora. De resto, a água canalizada demoraria anos a chegar e o saneamento básico ainda não chegou, tendo pelo menos desaparecido há várias dezenas de anos o costume de estrumar certos locais da aldeia, junto à entrada das casas.
Não tendo sido dos locais mais atingidos, pois registaram-se centenas de milhares de mortos em Portugal e vários milhões em todo o Mundo, a verdade é que muitas crianças da nossa aldeia faleceram e apesar de muitos acreditarem que elas são os nossos Anjos protetores, a verdade é que as autoridades do governo e os avanços da humanidade acabariam por introduzir  um conjunto de melhorias no sector da saúde,  na higiene pessoal e coletiva e condições de vida que, apesar de tanta pobreza, pelo menos nos permite afirmar que o sacrifício de tantos inocentes não foi em vão.
Ao nosso Padroeiro, Santo Amaro, apenas dizemos que não deixe de interceder por todos aqueles que nasceram e cresceram sob a sua proteção, e felicitá-lo pelo excelente trabalho realizado no ano trágico de 1855! 
Quando hoje, 23 de Fevereiro de 2021, decorre mais um dia em que os cidadãos de Portugal e mundo inteiro, vivem em confinamento por virtude do Covid 19, doença que já matou milhões de seres humanos numa onda pandémica que já não se acreditava viesse interromper a normalidade e o progresso da humanidade, aqui estamos nós, bujoenses na terceira idade, de novo confrontados com a necessidade de não esquecermos os exemplos do passado para acreditarmos que Santo Amaro nos protegerá. Porque não? 

O ANDOR DE SANTO AMARO NUMA FESTA EM BUJÕES (foto do blogue Bujões e  a sua gente)





Texto reformulado em 23/2/2021

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