SANTO AMARO AO SOL



SANTO AMARO À PORTA DA CAPELA , AO SOL



Esta foto em que o Santo Amaro desceu do seu pedestal e veio até à entrada da velhinha Capela com o seu nome, situada no centro do povo, a qual já existia há mais de 300 anos, faz-nos vir à lembrança os leilões que se realizavam para angariar fundos para a grande festa de Agosto. Santo Amaro assistia deliciado aos "piques", sobretudo quando aparecia uma boa fresquita (omelete com salpicão, chouriço, linguiça, etc) que os rapazes da época não deixavam escapar, logo devorada e bem regada com vinho tinto, em tainas que reuniam grupos de amigos.
Sob a batuta desses grandes leiloeiros, o tio Belmiro, e depois o tio Ilídio, figura de alegria extasiante, que contagiava tudo e todos com a sua disposição e jeitinho especial adquirido na sua passagem pelo Brasil, as ofertas doadas pelas gentes do povo eram leiloadas, desde as já referidas fresquitas, até batatas, cebolas, fumeiro, azeite, vinho, etc. etc. 
Contudo, indo ao encontro dos românticos rapazes dessa época, era curioso assistir ao leilão de cravos para oferecer às raparigas de então, bonitas e risonhas, sempre vigiadas pelas mães...

... "Vai em dois escudos, quem dá mais... este cravo é dedicado à Maria...

... "Quem dá mais, quem dá mais..." 

... "Então rapazes, isto é pouco, ela merece mais"... 
lá gritava o tio Ilídio! 



Depois de ele ter morrido, o tio Maximiano Grilo seguiu idêntico ritual, com o mesmo entusiasmo e dedicação!

O nosso Santo Amaro, mal regressava ao seu lugar, ouvia das boas dos outros santos que entendiam que também tinham direito a sair um pouco e vir até cá fora apanhar sol ... e que não era justo ser sempre ele...

Santo Amaro argumentava que se fora escolhido para Padroeiro era porque o povo gostava dele e, portanto, não havia razão para protestos, até porque o dinheiro recolhido era para a sua festa. E lá continuavam a discussão, mas tudo dentro do maior respeito!.. Ainda hoje continuam todos bons amigos!

Esta forma de angariar fundos caíu em desuso, embora ainda existam locais onde se mantém essa tradição dominical, como é por exemplo o caso de Guiães.

Em breve iremos contar um pouco da história das Capelas de Bujões, a de Nossa Senhora do Conceição, referenciada também, por lapso, como sendo antes de Nossa Senhora do Carmo e a de Santo Amaro, ambas com vida atribulada, mas exemplos da fé de uma aldeia que se manteve fiel aos princípios da religião católica e que encontrava naqueles pequeninos espaços uma forma colectiva de exibir tais sentimentos de respeito pelos valores morais e de renovação espiritual que actualmente não têm o mesmo simbolismo porque as mudanças no Mundo e o progresso económico a isso levaram. Mas Santo Amaro continua sendo o Padroeiro de uma aldeia que ganhou direito e lugar no mapa da nossa história poucos anos depois de D. Afonso Henriques ter proclamado a independência de Portugal e D. Sancho I, seu sucessor, ter concedido aos 12 povoadores que para ali enviou uma carta de Foral datada do ano de 1191. 


                                                    


IMAGEM DESFOCADA DA CAPELA DE SANTO AMARO. TINHA UMA ENTRADA LATERAL PARA O CORO E UMA PEQUENA TORRE ONDE ESTAVA COLOCADA A SINETA










Aqui residiu durante séculos o padroeiro de um grande povo!




Jvpaula.

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