A ESCOLA DE BUJÕES E AS PRIMEIRAS PROFESSORAS


Hoje em dia a nossa aldeia de Bujões não tem Escola. O edificio  esteve abandonado e no seu interior o silêncio e a tristeza de um espaço onde tantos bujoenses aprenderam a ler, escrever e contar. Um dia falaremos em que contexto essa Escola foi erguida em substituição da outra, tão velhinha e sem condições, paredes meias com a casa do tio Amadeu e família Brites e ao lado da casa do Sr. Bento e Dª Marieta. Hoje, é moradia de um bujoense e felizmente que a restaurou, sendo vulgar dizer-se,  " ali era a Escola".
Aí mesmo, nós, os mais velhotes, aprendemos as primeiras letras e números, levámos algumas palmatoadas, umas vezes merecidas e outras vezes injustas. Eram assim aqueles tempos e quase todos recordamos com saudade os momentos ali vividos. O recreio, lá fora, naquela eira, ao lado da casa da tia Amélia e do tio João Mimos, está  agora cheia de silvas! E serão poucos aqueles que não recordam o nome da sua ou suas professoras. Eu tive duas - a Dª Olga, já falecida há muitos anos, morava em Vila Seca, e a Dª Maria Adelaide, que sendo de Vila Real, ficava na casa da tia Clotilde e nós íamos acompanhá-la às sextas-feiras e esperá-la às segundas-feiras, no local da passagem, junto ao rio Tanha, onde chegava a carreira, pois não existia a estrada atual.  Tanto uma, como a outra, nunca as esqueci, mas à Professora Dª Maria Adelaide que me propôs a exame de admissão, eu serei sempre grato para com a sua memória, uma vez que, infelizmente, já faleceu. Dela levei as únicas 12 palmatoadas da minha vida e nunca houve coisa mais merecida e exemplo mais marcante, pelo que até considero que foram poucas. Sei que isso já não se usa e sei também que algumas professoras até recorriam a esse expediente mais do que deviam. Mas para mim, professor ou professora, será sempre símbolo de respeito e admiração por a considerar a profissão mais linda do Mundo! Pena o que, por vezes, se observa hoje.
Além de outras professoras que ensinaram em Bujões e cujos nomes havemos aqui de deixar expressos, uma das que esteve mais tempo e mais alunos ensinou foi a Dona Mimosa, que muito embora tivesse nascido em Vilarinho encontrou na nossa aldeia motivos que lhe preencheriam a vida, como professora, como mulher e mãe. 



E para os mais velhos ainda recordarem ou os mais novos ficarem a saber, deixo aqui um pouquinho da história da Escola de Bujões:
Por Decreto de 19 de Agosto de 1908, publicado no então Diário do Governo nº 189, de 24 do mesmo mês, foi criada uma Escola mista na povoação de Bujões, freguesia de Abaças, concelho de Vila Real, ficando o seu provimento dependente da aquisição de algum material escolar que ainda falta e duma latrina em lugar afastado da que já existe.

Em 18/8/1910 foi nomeada para ocupar o lugar MARIA DA GLÓRIA REIS, tendo a nomeação obtido o visto do Tribunal de Contas em 24 de Agosto de 1910. O vencimento fixado anual era de 165.000 reis.
A questão da latrina e a turbulência política com os acontecimentos que levaram à implantação da República em 5 de Outubro de 1910, adiou a abertura da Escola e somente em 21 de Junho de 1917 foi nomeada interinamente como professora PALMIRA DA CONCEIÇÃO RIBEIRO DE ARAÚJO que tomou posse em 25 de Junho desse mês, recebendo 6 dias de trabalho ( líquido 2,94 (dois escudos e 94 centavos).
Desde 22/5/1911 que a nova moeda era o escudo, moeda essa que passados 91 anos, foi substituída pelo euro.

Em 20 de Setembro de 1917 foi nomeada como professora de Bujões, SILVANA AUGUSTA MONTEIRO que recebeu 18 escudos e 25 centavos pelos dias de trabalho,  cujo vencimento anual ilíquido, como professora de segunda categoria, era de 300 escudos.
Ainda há quem recorde a Professora SILVANA, que era natural de Souto Maior-Sabrosa, nascida em 15 de Março de 1875 e falecida em 19 de Abril de 1955. Morreu solteira e dizem que foi uma excelente Professora.
A seguir a ela, tomou posse em 2 de Fevereiro de 1927, ALCINA ALICE RIBEIRO DE ARAUJO, vinda de Castelãos-Chaves, por permuta.
Como se pode verificar, duas professoras são da família bujoense RIBEIRO DE ARAÚJO, personagens incontornáveis da história da nossa aldeia
Vejam quanta saudade, quantas histórias, quantas críticas, quantas belas recordações persistem em nós por essas mestras que nos ensinaram a soletrar "a" "e" "i" "o" "u" e a cantar a taboada " dois vezes dois quatro", "dois vez três seis" etc. etc.
A todas elas, a minha mais profunda homenagem! Que pena já não olharmos as nossas professoras  e as nossas crianças a passar a caminho da Escola, da nossa Escola, que nasceu por Decreto Lei em 1908 e que está morta, talvez para sempre!

Nota:
Passa a partir de hoje, em homenagem a esse passado que não voltará mais, como coautora e colaboradora deste blogue a jovem professora e bujoense Cláudia Maria Cardeal Oliveira.
Em tempos em que nem emprego aparece para pessoas qualificadas, como é o caso da Cláudia, aqui deixamos esta mensagem de esperança. O futuro está nas mãos dos jovens, há que acreditar que não iremos voltar aos tempos em que descalços, alegres, ao frio e à chuva nós íamos esperar a nossa mestra calcorreando caminhos e matas com a esperança estampada no rosto. Era bonito, mas ninguém quer de volta esses tempos!

13/9/2012

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