QUE DESCANSEM EM PAZ!



Na tradição católica, o Cemitério é um local de culto e veneração destinado a perpetuar a memória dos entes queridos ali sepultados, alguns deles em simples campas rasas, utilizadas rotativamente após um período relativamente maior ou menor, conforme a necessidade de espaço, ou em jazigos simples, ou outros exibindo alguma pompa e circunstância, como  a querer contrariar o princípio de que todos somos iguais perante Deus, no momento em que nos desprendemos da vida.
Bujões, na sua longa história de séculos, acompanhou naturalmente os usos e costumes dos povos que por ali deixaram marca, sobretudo os romanos.
Mais tarde, com os povoadores enviados por D. Sancho I, os princípios seguidos pela religião católica impuseram-se até hoje e com uma ou outra mudança, mas sempre suportada na seguinte expressão bíblica:

Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem revertereis.
Lembra-te homem, que és pó, e em pó te hás-de converter.

Existem algumas provas documentais, com datas anteriores ao ano de 1700, atestando que Bujões tinha duas Capelas no centro da povoação, sendo a de Santo Amaro conhecida por Capela do Povo. Esta já existia em 1667, mas tudo indica que tenha mais alguns anos.
A Capela de Nossa Senhora da Conceição era uma Capela familiar com origem na Família Roiz Barboza (Rodrigues Barbosa). Existe um documento dizendo que em 28/9/1635 ali foi sepultado Gonçalo Roiz, seu fundador, pai de Joseph Roiz Barboza.
Em ambas as Capelas, no seu interior, ou nos chamados Adros (espaços em volta), foram sepultados comprovadamente diversos bujoenses, homens, mulheres e crianças,  em maior quantidade na Capela de Santo Amaro, dentro daquela pequenez própria da nossa aldeia. Em cada ano, nem nascia, nem falecia muita gente, pelo que os pequenos espaços foram chegando porque havia equilíbrio na população residente.
Apesar de poderem ficar em eterno repouso na sua aldeia, muitos bujoenses optavam pela Igreja de São Pedro de Abaças, em cujo interior ou no Adro fronteiro foram sepultados. Esta Igreja tinha uma importância e influência muito grande, sendo a razão do maior desenvolvimento de Abaças em relação a Bujões e a todos os outros locais da freguesia.
Quando das grandes epidemias de meados do século dezanove, Bujões teve a sua oportunidade de ver construído o seu próprio Cemitério e este passou a funcionar na pequena elevação  por cima da fonte, ao lado da então pequena capela de Nosso Senhor do Calvário, sendo referenciado como “ O Cemitério do Povo ou do Calvário”. Em todas as outras aldeias da freguesia também funcionaram cemitérios locais.
Para se ter uma ideia de como não era preciso muito espaço, vejamos o número de falecimentos registados em Bujões no espaço de 12 anos, antes de o Cemitério do Calvário ter recebido a primeira bujoense, em Outubro de 1860, um anjo, de 20 meses! Depois do que sucedeu em 1855, em que faleceram milhares de pessoas em Portugal com a epidemia de cólera (peste), e sobre isso já publicámos uma página “O MILAGRE DE 1855”, quase todas as aldeias em redor, por ordem das autoridades, abriram cemitérios locais e deixaram um pouco mais liberto o da freguesia que, mesmo assim, continuou a receber aqueles que o desejassem:

Falecimentos em Bujões de 1848 a 1859 = 41 (quarenta e uma pessoas), assim distribuídos:
Sepultados em Abaças : 28 (vinte e oito)
Sepultados na Capela do Povo de Bujões: 9 (nove)
Sepultados na Capela de Nossa Senhora da Conceição: 4 (quatro)

Depois de 1860, a situação inverteu-se. Com efeito, até 1880, ou seja em 20 anos, foram sepultadas no Cemitério do Calvário mais de 70 pessoas, a maioria crianças, ou inocentes, como lhe chamavam. Depois encerrou para sempre, deixando-nos apenas como imagem as altas e floridas mimosas que tomaram durante muitos anos conta daquele local.
Devemos referir, também, que à maioria dos homens, na hora de descerem à terra, vestiam-lhe o Hábito de São Francisco, e às mulheres o Hábito de Nossa Senhora. A maioria não utilizava caixão e desciam à terra com os corpos envoltos num simples lençol.
Depois das reformas estabelecidas no final do século dezanove e devido a dificuldades financeiras e de controlo sanitário, os Cemitérios públicos centralizados impuseram-se por todo o País e, ainda hoje, quando os bujoenses deixam este mundo a caminho do outro, e se não optarem por outra solução, têm como destino final o Cemitério da freguesia, em Abaças.

Longe da vista, mas perto do coração e nunca esquecidos, porque esse é um caminho que a pé, de ambulância, ou de qualquer outra forma, para ali ou qualquer outro local, todos havemos de um dia percorrer. A esse destino ninguém escapará!
Aos que foram sepultados naqueles locais de culto que Bujões já teve, cujos nomes não referimos por respeito à sua memória, queremos manifestar a convicção de que este espaço de informação, ao deixar aqui este pequeno memorial sobre os locais onde foram sepultados alguns dos nossos antepassados, se sente na obrigação de convidar os seus leitores crentes e não crentes, católicos ou de outras religiões, a que os incluam a todos eles nas suas orações de fé. Mesmo que os restos mortais tenham ou não sido transferidos com a dignidade devida, existindo dúvidas quanto a esse ponto, o certo é que ninguém pode apagar o passado, nem reparar o que tenha sido feito sem o rigor adequado.
Seja como for, no dia do Juízo Final haverá então tempo para todos se reverem e até lá a formulação de um desejo bem simples, sincero e singelo:

Que todos eles repousem em paz!

Nota: Assinalo que faz hoje 46 anos que faleceu em Bujões, repousando no Cemitério de Abaças, meu querido pai, João Paula, conhecido como João Cego, de Bujões. Personagem conhecido, ainda hoje, por muitos bujoenses e gentes de outras terras em redor, a seu tempo terá neste blogue uma página bem merecida, como preito de homenagem aos seus valores éticos e morais e ao seu virtuosismo musical. Figura ímpar, vive e viverá para sempre na nossa mais amada lembrança!
E, hoje mesmo, o Sr. Casimiro Pimenta,  de Galafura, (exímio tocador de viola),  com 77 anos, cujo casamento meu pai animou, e o Sr. Sérgio Carmo, de Canelas, (brilhante acordeonista), na presença de meu irmão Sérgio (que agora seria bem capaz de acompanhar meu pai, na viola), tocaram os três diversas músicas em sua homenagem em S. Leonardo de Galafura.
Foi bonito que sob aquelas encostas íngremes que descem até Covelinhas se ouvissem os acordes da famosa valsa com que o João Cego prendava os noivos nos casamentos em que tocava. E mais bonito ainda quando, ouvindo-os com atenção, e comovido, ali estava o amigo que tantas e tantas vezes o acompanhou até casa do Sr. Agostinho de Lacerda, naquela linda aldeia do Douro, onde nasci. Esse amigo, então seminarista, é o Sr. Manuel Correia Botelho, um jovem a caminho dos cem anos!
A música pautando a saudade! E nessa saudade se envolvem todos aqueles, como o pai do Sr. Casimiro, o Joaquim Barbosa, de Bujões, no bandolim,  o Armando, de Poiares, e tantos outros que transmitiram momentos de alegria e animação ao lado daquele que a música celebrizou na pequenez  e humildade daquelas saudosas épocas!


    Na foto abaixo, o antigo muro e as mimosas do Cemitério do
    Calvário. ( Uma procissão baixando a costa da fonte )






5/9/2012
JVPaula

2 comentários:

  1. Emocionante ! Parabéns !!!!

    ResponderEliminar
  2. me desculpe sr paula sobre o que conta mais bonito seria ainda un video para que possamos ouvir e ver esses 3 tocadores recordando o seu falecido pai parabens por recordar no seu bloggue algumas das pessoas mais casticas da nossa terra forca continue

    ResponderEliminar