Este
blogue tem por objetivo não deixar esquecidas as memórias que respeitam ao
passado da nossa aldeia – BUJÕES- nem as personagens que aí nasceram ou que aí
tiveram suas raízes e que por uma razão ou outra deixaram uma marca que o tempo
não pode nem deve apagar.
Este
princípio que nos norteia já é perceptível nas páginas até agora apresentadas e
tanto se aplica a pessoas que já nos deixaram, como a algumas que, felizmente,
ainda por cá fazem o seu percurso de vida.
Por
outro lado, tanto nos interessam as pessoas simples e humildes, como outras que possam ter atingido um maior destaque.
No
fim, todos são bujoenses e todos fazem parte do património humano que importa
deixar como herança cultural aos que farão parte do futuro da nossa aldeia,
cuja existência secular será assegurada por todos aqueles que percorrerão esses
caminhos nas próximas gerações, alimentando este ciclo de chegadas e partidas,
que se deseja se prolongue por séculos e séculos sem fim.
Por
isso já abrimos as nossas páginas às gentes simples e boas que trabalharam no desmantelamento
de barcos para o ferro velho, e à mais idosa das bujoenses vivas, a tia Maria do
Messias, para já não falar em acontecimentos e antepassados mais
remotos de que quase ninguém ouvira falar e cuja existência temos trazido lá do fundo dos arquivos onde repousavam esquecidos.
É
verdade que a nós não nos motivam os acontecimentos do presente, mas sim a descoberta das
memórias do passado e exaltar somente as virtualidades da vida de todos aqueles
que deixaram algo de interessante para recordar.
Hoje, vamos registar uma parte do percurso terreno desse bujoense que todos conhecem pelas mais diversas razões, mas poucos poderiam testemunhar, senão ele, a fase da sua vida quando jovem, embora jovem ele continue e na rota em que poucos conseguem navegar, a caminho dos cem!... Que os ventos lhe soprem sempre de maré, por forma a que o barco da sua vida atinja e ultrapasse essa linha secular! E que ninguém tenha dúvidas que ele navega imparável na rota traçada!
Hoje, vamos registar uma parte do percurso terreno desse bujoense que todos conhecem pelas mais diversas razões, mas poucos poderiam testemunhar, senão ele, a fase da sua vida quando jovem, embora jovem ele continue e na rota em que poucos conseguem navegar, a caminho dos cem!... Que os ventos lhe soprem sempre de maré, por forma a que o barco da sua vida atinja e ultrapasse essa linha secular! E que ninguém tenha dúvidas que ele navega imparável na rota traçada!
Eis,
portanto, perante vós, a figura incontornável de MANUEL CORREIA BOTELHO, nascido há quase 92
anos, segundo os registos, mas ainda jovem de espirito e com uma vontade indómita de
continuar a percorrer o caminho que Deus
estipulou para a sua vida.
Lembremos,
então, como apareceu neste Mundo e na nossa aldeia este bujoense cheio de orgulho na sua terra, e apaixonado por tudo o que seja transmontano e português, sem esquecer, naturalmente,
o país para onde emigrou e onde atingiu elevada notoriedade – o Brasil.
Uma visão de Bujões, a aldeia onde nasceu e que nunca esqueceu.
AS RAÍZES
Manuel
Correia Botelho, é o primeiro filho do 2º casamento de Clotilde das Dores
Botelho, natural de Bujões, com Manuel Pires Correia, natural de Poiares, e nasceu em Bujões em 17 de
Fevereiro de 1921.
Nas
fotos que foram inseridas no livro “Desde o Alto da Serra” publicado
pelo seu irmão Germano, poderão rever-se as figuras de seus pais e de seu avô
materno, Manuel Botelho.(na foto)
Este,
foi pai de um numeroso grupo de filhos, entre os quais Clotilde das Dores
Botelho, mãe de Manuel Correia Botelho, cuja vida vem descrita naquele livro de
uma forma absolutamente admirável.
O
que é pouco conhecido é o facto de o avô materno, Manuel Botelho, ser filho
natural de Maria do Carmo, nascida em 1812 e falecida em Bujões em 21/10/1877.
Maria
do Carmo é filha legítima de Inácio Botelho da Silva Barbosa e Sousa e Ana
Bernardina Filgueiras, que apenas contraíram matrimónio em 22 de Julho de 1822, e tiveram quatro filhos, entre os quais a referida Maria do Carmo.
Inácio,
por sua vez, é o segundo filho do Cavaleiro da Ordem de Cristo Joaquim José da Silva
Barbosa e Sousa e de sua mulher D. Ana Bárbara Narciza Botelho de Queiroz e
Mello de Lucena, havendo registo de mais três filhos de uma segunda mulher-Maximiana Mecias.
Estes
personagens serão referidos na página O CAVALEIRO DA ORDEM DE CRISTO, e haverá ainda muito a escrever sobre esse tema.
Ou
seja, as raízes maternas de Manuel Correia Botelho são de pessoas de conhecida
nobreza de Vila Real, mas ele mesmo não precisa dessa pretensa distinção
atribuída aos portadores do chamado sangue azul, pois é um homem simples, deveras
conhecido, isso sim, pela sua nobreza de carácter e pela distinção e dimensão
da sua figura humana. No fundo, é e será sempre essa a sua melhor e mais profunda
característica e o maior legado com que nos presenteia todos os dias e que, quando
daqui a muito tempo chegar a sua hora, é esse o traço mais vincado que deixará como herança
inapagável aos seus vindouros.
MANUEL CORREIA BOTELHO- UMA VIAGEM AO PASSADO...
Tendo
o Sr. Manuel quase 92 anos, e sendo actualmente o bujoense de idade mais avançada ao nível dos registos, que não no
espirito, que recordações mais vivas lhe ficaram dos seus tempos de criança,
atendendo a que a pobreza era muita naquela época?
Em criança lembro-me de fazer umas carretas
para brincar e vinha lá de cima do alto do Picoto, a correr por aí abaixo. Eram
só fragas e pedras e aí acredito que as crianças tinham um Anjo da Guarda que as
protegia porque como nós vínhamos em disputa uns com os outros, só por milagre
não partíamos a cabeça e as pernas por aquelas encostas que iam parar lá no
fundo, na Fonte. Repito, só por milagre ninguém se magoava seriamente, a não ser umas
feridas nos pés descalços, que não eram nada…
Ainda
se lembra de algum dos companheiros de brincadeira desses tempos?
Aquele com quem eu mais brincava era com
o Francisco Comba, que casou nos Açores e que era quase sempre o meu companheiro habitual. Éramos danados para a brincadeira. Um grande companheirão! A minha mãe gostava
que brincasse com ele porque tinha fama de um bom rapaz, como eu. Porém, havia
outros que, tal como ele, já partiram para o outro mundo e cujos nomes já não
lembro mais, para aqui os citar. Que bela rapaziada que havia nesses tempos em
que todos tinham tão pouco, mas em que respirávamos aquele ar puro da rua e dos
campos e a beleza única das árvores de fruta e das videiras. Brinquedos não faltavam,
pois havia tanta pedra e não havia nem frio, ou chuva, ou mesmo neve, nem calor que
nos metesse medo!
Francisco Comba, um companheirão!
Já partiu, mas deixou saudade.
O Sr. Manuel, quando era criança, também passou dificuldades e tal como a grande parte da rapaziada de então, se não
fosse a fruta, quando havia, o estômago não tinha hora certa para ser alimentado?
Claro que sim. A maioria de nós andávamos descalços,
mal vestidos, e mal alimentados, porque o pão de milho não abundava. Às vezes
não faltava uma mão amiga que nos aconchegava a barriga, não me esquecendo eu do esforço de minha mãe para vencer tanta carência.
Todos passavam dificuldades com excepção de um ou outro, mas nada de especial. Minha mãe, com tantos filhos, ainda tinha mais dificuldades que ninguém e o pior foi a partir de quando meu pai emigrou para o Brasil, em 1927, tinha eu 6 anos.
Todos passavam dificuldades com excepção de um ou outro, mas nada de especial. Minha mãe, com tantos filhos, ainda tinha mais dificuldades que ninguém e o pior foi a partir de quando meu pai emigrou para o Brasil, em 1927, tinha eu 6 anos.
Temos que demonstrar gratidão pelas
pessoas que nessa altura ajudaram e elas bem sabem, aqui ou no outro mundo, que não
esqueço essa ajuda, quer dos familiares, quer de alguns vizinhos. A todos, repito, a minha gratidão.
O
seu irmão Germano diz no seu livro “ Desde o Alto da Serra” que o Sr. Manuel ia
a Abaças, em pequenino, buscar o correio para Bujões. Lembra-se disso?
Claro que me lembro. O meu avô, o tio
Manuel Botelho, era quem tinha a responsabilidade de ir a Abaças buscar o
correio, mas durante muito tempo quem tinha de lá ir era eu. Descalço, sozinho,
por aquele Bodinhal abaixo e no regresso subindo aquela mata cerrada, lá ia
buscar uma cartita ou outra que chegava, sobretudo de emigrantes do Brasil. Bem
me custava essa ida ao correio. Ia sempre a correr até Abaças e, no regresso até
Bujões, vinha sempre a olhar para trás…
Quando
Sr. Manuel nasceu em 1921, já havia Escola em Bujões e era então professora a
Dª Silvana, mas a sua professora foi a Dª Alcina. Que memórias tem desses
tempos da Escola?
Andei na Escola, naquela casa junto onde
moravam o Sr. Bento e a Dª Marieta de um lado e, do outro lado, o tio João Mimos e a tia Maria Amélia. A casa que serviu
de Escola ainda existe porque foi arranjada por quem a comprou. Tinha a sala de
aulas no primeiro andar, subindo umas escadas e cá em baixo havia uma latrina,
mas as necessidades era mais prático fazê-las ao ar livre.
Eu fui um bom aluno até à quarta classe.
Mas antes da data do exame, a Professora de então, a Dª Alcina, fez um ditado
em que dei dois ou três erros e ela já não me levou a Vila Real. Como não
queria correr o risco de ter alunos reprovados, pois podia ser
prejudicada com isso, ao ver que eu dei aqueles erros, não me deixou ir fazer o
exame da 4ª classe. É claro que arranjou um conflito com a minha mãe, que
ficando desgostosa, não deu o braço a torcer e para demonstrar que apesar da
ausência de meu pai, defendia os filhos com orgulho e vaidade, não deu parte de fraca e agarrou
em mim e fomos a Poiares falar com o meu tio Alberto, que depois viria a ser
Padre. Acabei por deixar a Escola de Bujões, ingressei na Escola de Poiares e fui no
ano seguinte fazer o exame na Régua e fiquei aprovado.
Sendo assim, essa decisão da Professora Alcina ao não propô-lo a exame, acabou por
ser uma decisão que modificou os caminhos da sua vida ?
Sem dúvida. Acabei por ingressar no
Seminário Salesiano de Poiares (na imagem ao lado) e ali estive uns cinco anos e depois no Estoril
e Mogofores onde frequentei o chamado noviciado.
Por pouco esteve esteve à beira de ser o primeiro Padre dos Botelho, de Bujões, uma vez que nas origens da sua família materna, de Vila Real, houve mais do que um padre...
Bom, à beira não estive, mas os estudos
que seguia podiam ter levado a esse caminho.
Contudo, um padre italiano fantástico,
no dia precisamente em que eu fazia anos, teve uma conversa comigo e
perguntou-me, olhos nos olhos, se eu me sentia com vocação para essa missão.
Eu respondi logo que não, que até me
sentia mal comigo próprio. Aquela conversa foi uma libertação.
E nunca me esqueci, nem esquecerei dos
Salesianos porque durante tantos anos me alimentaram, cuidaram de mim, deram-me
cultura e ensinaram-me princípios em troca de nada.
Na sua vida, em jovem, a Congregação Salesiana acabou por o marcar profundamente?
Exactamente. E eu com modéstia sempre
procurei demonstrar a minha gratidão para quem me ajudou a crescer. E eles não me
ajudaram só nessa altura. Quando fui para o Brasil deram-me uma carta de
apresentação e recomendação e fui professor de francês graças a eles. Nunca os
esquecerei. Fazem parte da minha família e vivem no meu coração.
Tenho
conhecimento de que nas férias do Seminário, o Sr. Manuel gostava de ir para Covelinhas,
terra onde eu acabei por nascer muitos anos mais tarde, e que acompanhava aquele que
viria a ser o meu pai, e que ficou conhecido como o João Cego, de Bujões.
Conte-me
a razão por que isso sucedia.
Um dia, aquele que viria a ser seu pai,
que era um grande amigo e frequentador da casa do Sr. Agostinho de Lacerda,
quer na Estrada, quer em Covelinhas, e das casas de outras pessoas da família,
em Canelas, como também frequentava todas as casas das pessoas importantes que
viviam em Poiares, Vila Seca, Guiães e aldeias em redor, quis que eu fosse com ele pela
Costa de Galafura abaixo para me apresentar ao Sr Lacerda.
Lá fomos os dois descendo aqueles
carreiros e fraguedos até à casa daquele amigo de seu pai, casa essa que ainda
hoje existe.
Entrámos na cozinha, que era muito
grande e ele estava a preparar uma cesta
de fruta ( figos, uvas e laranjas), e que vim a saber depois, era para enviar para o Porto.
O João Cego (na foto ao lado) que já conhecia os cantos à casa, disse para ele:
O João Cego (na foto ao lado) que já conhecia os cantos à casa, disse para ele:
“ Sr. Lacerda, trago-lhe aqui um amigo
para lhe apresentar!”
Ele virou-se para mim, fez um piscar de
olho, e disse:
“
Com que então trazes mais um comilão!”...
Se eu tivesse um buraco, desaparecia
logo ali, com a vergonha que senti, mas a verdade é que se tratou de um
gracejo, pois o Sr. Lacerda passou a ser um grande amigo meu e, durante uns
três anos, fui de férias no Verão para aquela sua casa, onde me trataram como
gente e com um grande carinho. Foi a primeira vez que fora do Seminário eu fui
tratado com tamanha estima e consideração.
Durante as férias, na companhia de seu pai, nessa
altura ainda solteiro, ensaiávamos o Coro, a duas e três vozes, e como era lindo ver
aquela gente a cantar. Até os jovens da Folgosa, que não queriam ficar atrás dos de
Covelinhas, nos vieram pedir para também ensaiarmos o Coro dessa aldeia. E lá íamos, eu e o
João Cego, ambos a atravessar de barca o
rio Douro que, no Verão, quase vazio, não
custava nada. Não existe comparação entre o caudal do rio de então, com o que sucede hoje!
Covelinhas com a casa do Sr. Lacerda e a aldeia de Folgosa, em frente.
Pelos vistos e apesar de ser jovem e bonitão, segundo dizem, nem em Bujões, nem em
Covelinhas, destroçou nenhum coração, nem sequer o seu?
Bom, naqueles tempos nada era como hoje.
Eu via bem nessa altura e havia raparigas bonitas, como sempre existiram e existirão.
Até o seu pai, apesar de cego, as sabia distinguir. Eu fui sempre muito reservado e respeitador
até pela educação que tive nos Salesianos. Se gostasse de alguém, seria
perfeitamente natural que um dia viesse a declarar esse sentimento, mas tendo
eu ido para o Brasil tão jovem, nem tempo tive para fazer chorar ninguém. Mas
saudade devo ter deixado sobretudo a tanta gente que andava envolvida nas
actividades dos Coros, entre os quais o de Bujões. E eu também levei comigo essa saudade e claro que havia sempre alguém que nos
marcava mais profundamente.
Ouvi
dizer que também organizou peças de teatro, nas Comédias de Bujões, que mais
tarde o seu amigo Francisco Comba também realizou, eventos esses que ainda hoje muita gente da nossa
aldeia recorda.
Sim, organizei duas peças. Na
primeira a minha mãe não estava nada entusiasmada porque tinha receio de algum
fracasso. Contudo, como tudo correu bem e foi um sucesso, na 2ª vez até ela
mandou cortar uns pinheiros de uma mata que tinha, para montarmos o palco. Foi
outro sucesso! Esse jeito foi uma das coisas boas que eu aprendi com os
Salesianos.
Sabe
que eu considero que essa incursão no teatro era uma característica da cultura
dos Salesianos, pois seu irmão Germano foi um grande actor, e eu quando estive
dois anos em Vendas Novas, no Colégio Salesiano, sempre fui escolhido para
cantar e para operetas e peças de teatro como figura principal.
Sem dúvida. Os Salesianos foram e são a
melhor referência da minha vida e fico satisfeito em saber que o Paula também
não deixou ficar mal Bujões. O meu irmão Germano, esse, então, nem vale apena
falar. No livro que escreveu ele conta tudo em pormenor e é um testemunho da
sua vida muito completo.
Quando saíu do Seminário foi de imediato para o Brasil?
Lembro-me perfeitamente que eu estava em
Vila Seca de Poiares, acompanhando o tio João Cego, que estava a afinar um
piano de cauda que se encontrava em casa do Dr. Antão Fernandes de Carvalho, um amigo que foi
presidente da Câmara da Régua. Era na chamada Casa Amarela.
Nisto chegou minha mãe dizendo que
chegara do Brasil uma carta de chamada para mim, enviada por meu pai. Ele não
escrevia há uns seis ou sete anos e foi uma surpresa. A carta de chamada vinha
dobrada em quatro, dentro de um envelope, sem uma linha escrita por meu pai.
Ele foi ao Botafogo, no Rio de Janeiro, e entrou no consulado português, perguntando como podia fazer uma carta de
chamada. Lá o ajudaram a preencher os documentos e colocaram o carimbo e o selo
e ele meteu dentro de um envelope e nada mais. A verdade é que essa atitude de
meu pai acabaria por modificar toda a minha vida.
Eu, nessa altura, já tinha recebido uma outra
carta de chamada, mandada por meu tio José, de Poiares, irmão do tio Alberto,
com destino a emigrar para Moçâmedes, em Angola, mas acabei por ir ter antes com o meu
pai.
Em que ano foi para o Brasil e como viajou?
Eu fui para o Brasil em Junho de 1939,
já tinha então 18 anos, e embarquei antes de começar a guerra, viajando então num
navio alemão “Madrid”. (na foto) Desembarquei no Porto de Santos e meu pai estava no cais
esperando por mim…
Tenho curiosidade em saber se alguma vez mais se encontrou com o Sr. Agostinho de Lacerda?
Lembro-me que em Junho de 1946, quando vim
pela primeira a vez a Portugal, comprei uns charutos dos melhores que havia
para oferecer ao Sr. Agostinho de Lacerda, mas ele já estava doente e viria a
falecer no mês de Setembro desse ano. Infelizmente, ele já não estava em condições de os fumar, pelo que ao menos ficou o meu gesto de reconhecimento por tão distinta pessoa.
Perdi um grande amigo e seu pai também.
Parece-me que o
Sr. Manuel regressou rápido ao Brasil?
Estive cá algumas semanas, e como não havia mais motivo para continuar, logo regressei no navio “Almirante Alexandrino”, (na foto) creio que no mês de Setembro.
Para
terminar, diga-nos o que começou por fazer quando chegou ao Brasil com 18 anos?
Fui professor de francês, fui bancário,
pois trabalhei num Banco, fui chefe de recepção de Hotel e, mais tarde, Gerente
de Hotel nas Águas de S. Pedro (São Paulo). Só vários anos depois, primeiro em part-time, e depois a tempo inteiro, me
tornei empresário, dando seguimento ao negócio iniciado por meu
pai.
Quando
regressou de Portugal,em 1946, o Sr. Manuel casou com a D. Ruth e que contributo deram
ambos para a continuidade dos Botelho?
Casei em Santos, em 27 de Novembro de 1946, e tive
dois filhos, o Manuel e a Ruth Maria, tendo actualmente 6 netos e 9 bisnetos, o
que já é um bom contributo.
Os netos são a Camila, a Carolina, o
Tiago, e a Eleanora, filhos do Manuel e da Renata; a Manuela e a Roberta, filhas da Ruth Maria e
do Alberto.
Os bisnetos são o Guilherme e a Julia,
filhos da Camila, a Manuela, a Gabriela e a Rafaela, filhas da Carolina, a
Isabel, a Joana, o Luis António e o Henrique, filhos da Eleanora.
Por
fim diga-me o que pensa de seus pais, da sua aldeia e que pensa fazer quando
chegar aos cem anos?
Quando chegar aos 100 anos vou começar a
planear uma festa para os melhores amigos, a realizar quando fizer 110 anos. Eu
apenas quero agradecer a Deus que me dê saúde, paz e tranquilidade para continuar esta
minha vida simples na aldeia onde nasci e que sempre trouxe e trago no coração.
Quero continuar a vir cá todos os anos, até que Deus queira.
Não vale apena falar no passado, pois eu
mesmo gostaria de ter feito algo mais pela minha linda terra, mas atendendo às
circunstâncias eu fiz aquilo que era possível e não me arrependo de nada.
Ninguém é perfeito e veja-se que mesmo neste Outono da minha vida e com tantas vicissitudes, eu não posso deixar de agradecer ao meu Anjo da Guarda por tudo o que de bom estes quase 92 anos
me propiciaram.
As últimas palavras são para meus pais e
não quero fazer distinções. Tive uma mãe e um pai que me deram o melhor que o
ser humano pode ter, além da própria vida, claro: princípios, gratidão, fé,
respeito e solidariedade pelo próximo. E isso eu tenho aplicado na minha vida e
quero continuar a proceder assim mesmo, até que Deus o permita...
Aliás, minha mãe deixou-me como herança
a imagem de Santa Bárbara que é a santa protetora das tempestades, raios e
trovões e é com a sua oração que eu termino as minhas palavras:
“Santa Bárbara, que sois mais forte
que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios
não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me
abalem a coragem e a bravura. Ficai sempre ao meu lado para que possa
enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de
minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever
cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graças a Deus,
criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem poder de dominar o
furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.” |
Sem dúvida, você é daqueles que não pode faltar
de maneira nenhuma.
Com a Esposa, Dª Ruth, num dos locais que mais gosta, a
Barragem do Alqueva
Aos 100 lá nos encontraremos para planear a festa dos 110!
Outubro de 2012
ADEUS AMIGO, ADEUS SR. MANUEL !
O caminho vinha sendo percorrido com dificuldade, e já atingia a marca de 96 anos e alguns meses, quando em 31 de Julho de 2017 chegou a notícia triste, não inesperada, da partida para o outro mundo deste amigo único, deste bujoense ilustre cuja simpatia, bairrismo, nobreza de carácter, transmontano apaixonado, que deixou uma marca indelével em todos aqueles que tiveram a sorte de serem seus amigos.
Não conheci na minha vida homem mais caridoso e disponível para bem fazer do que este amigo do coração que tive a felicidade de acompanhar desde os 18 anos, ou seja um longo percurso de 52 anos.Que interessa agora dizer ou sequer pensar que alguns lograram disso proveito - quantas histórias eu sei - que deveria ter feito isto e não aquilo, que não merecia ter sofrido as angústias dos últimos anos de vida, etc. etc.
Meus amigos, Manuel Correia Botelho foi um homem de sucesso. Nasceu na humildade da sua família natal, entrou num seminário para servir a Deus.
Não chegou a realizar-se nesse caminho da fé, preferindo ir em busca do pai, no longínquo Brasil. Aí alcançou os maiores feitos da sua vida. Casou, foi pai de uma filha e de um filho, e desde logo muitos netos e bisnetos vieram acolher-se debaixo da sua árvore frondosa e fraternal. O caminho teve pedregulhos difíceis de vencer? Sim, é verdade, mas o legado humano deste personagem, nascido em 1921 na nossa aldeia de Bujões, vai muito além de tudo aquilo que Deus colocou como contrabalanço a uma vida cheia de bondade, de companheirismo, de paixão e sabedoria.
Por isso, deste humilde canto do blogue Bujões- Memórias e Personagens, na página que lhe é dedicada, aqui deixamos registada a mágoa pela sua partida, a certeza que lá nos confins do jardim celestial, este homem bom, amigo inesquecível, já estará deliciando-se no meio dos seus amigos e familiares e sentado no palco divino apreciando a beleza de uma qualquer banda musical, semelhante a esta aqui deixada em sua homenagem
O Sr. Manuel Correia Botelho continuará sempre vivo na nossa memória! Toque a banda!!!
Como não sei se ainda cá estarei (espero que sim) e como não me quero fazer convidado (mas serei certamente) desde já felicito o homem que caminha para o século e quem desta forma simples deixa para a história um bocadinho da vida deste grande bujoense. Eu acho que vai ter muita gente! E merece!
ResponderEliminarPor um lapso de memória, o sr. Manuel, além da Mãe esqueceu de mencionar sua irmã Maria da Glória Correia Botelho que foi trabalhar na casa da Madrinha em Poiares Tia Maria e Tio Joaquim para ajudar a custear as despesas de casa da Tia Clotilde e depois no Brasil por mais de 25 anos em sua casa, cuidou dele dando-lhe todo afeto e carinho de uma verdadeira MÃE.
EliminarDe entre os projectos que este blogue quer concretizar, logo que possível, estará a elaboração de uma página sobre esta Senhora admirável que era a Dª Maria da Glória Correia Botelho. E este facto referido neste comentário, sem podermos agradecer a quem o fez,(espero que através do mail jvpaula@netcabo.pt me contacte) será certamente aflorado nessa página. Sei por conhecimento pessoal quanto admirada era esta Senhora por seus irmãos Manuel, Germano e José, bem como pela tia Filomena.
EliminarSe há sorrisos e simpatia que não se esquecem, para além da pessoa em si, esse é o caso certamente da Dª Glória. Todos os Bujoenses mais velhos sabem o que sofreu a mãe deles - basta ler o livro do Dr. Germano- e quanto sofreram todos os filhos que viveram uma infância dificil sabendo-se que encontraram ajuda junto de algumas familias da altura (seria errado citar nomes, pois podiam esquecer alguma) e muitas vezes recebiam com todo o carinho uma côdea de pão que não abundava e dada por quem não vivia muito melhor!
Nesta entrevista são só referidas questões até á idade de 18 anos do Sr. MCB. Serão retirados todos os comentários que se refiram à sua vida de empresário. A razão é simples. Alguém está a escrever um livro sobre esse período e, de certo, aí serão desenvolvidos os apoios e influência de certos familiares e não adianta que sob a capa de anonimato queiram já comentar um período de vida que propositadamente aqui não foi referido porque não iríamos fazer concorrência a quem está a escrever sobre esse período. Entendido?
EliminarO Sr. Manoel Correia Botelho, tem o meu respeito! É realmente um grande homem.
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